Daniella – Nascimento da Sabrina
Daniella – Nascimento da Sabrina
Para mim é um privilégio escrever este relato, pois significa que hoje tem uma pessoinha aqui na minha frente me interrompendo toda hora enquanto digito e eu amo muito tudo isso. É também uma excelente oportunidade para refletir sobre tudo que aconteceu. Sinto-me abençoada por ser mãe, por ela ter saúde e por ter chegado através de um parto respeitoso e digno para ela e para mim. Nascer assim hoje em dia é uma dádiva.
Há muitos anos atrás passei por uma cirurgia para retirar um cisto no ovário. O pós-operatório foi dolorido. Fiquei traumatizada e jurei que faria o possível para não ser submetida a uma cesárea, pois sabia que o pós-operatório seria igual ou pior. Meu desejo de ter parto natural era então algo egoísta. Não pensava nos benefícios do parto natural para o bebê. Só não queria ser cortada e sentir tudo aquilo novamente.
Para nossa tristeza, em 2012 tive uma gravidez não embrionária. Eu não queria fazer a curetagem. Meu médico ponderou os prós e contras desta minha opção. Como eu estava bem, decidimos esperar. Deu certo. Os restos ovulares saíram naturalmente um pouco depois.
Quando engravidei novamente, eu já estava bem mais informada em relação aos mitos e aos benefícios do parto humanizado, tanto para a mãe, quanto para o bebê. Pensei que seria fácil entrar num acordo com meu médico para eu ter parto natural. Afinal, eu sabia como as coisas funcionam atualmente. Falei desde o início que queria parto natural, mas ele dizia que era muito cedo para discutirmos isto. Contudo, apoiou minha decisão e eu fiquei feliz.
Minha amiga Lú (Luciana, mãe do Nicolas) falava muito bem do PN que teve com o GO dela (o Dr. Marcos Tadeu Garcia). Que ele conversava muito não só com a futura mãe, mas também com o futuro papai. Ela me alertou que meu médico no início concordaria em fazer PN, porém depois ele arranjaria pretextos para o desfecho ser uma cesárea. Custei a acreditar. Gosto muito do meu ex-médico e achava que ele jamais faria isto comigo. Mas os sinais começaram a aparecer. A bebê e eu estávamos ótimas e ele não dava continuidade no assunto quando eu perguntava do PN e do plano de parto. Dizia vagamente que dependeria da minha dilatação. Eu já me encontrava triste por outros motivos e fiquei ainda mais porque precisava me decidir se ia trocar de profissional ou não, e rápido.
Eu estava cercada de informações, das experiências da Lú e da Fê (amiga apresentada pela Lú, que também teve PN) e certa da minha escolha pelo PN. Não sei porque ficou tão difícil tomar uma atitude prática. Acho que foi um conjunto de fatores: O medo das pessoas quanto ao PN, a questão do plano de saúde, a insegurança de trocar de médico e de carregar sozinha esta responsabilidade se algo desse errado. Meu marido só começou a me apoiar após participarmos de algumas palestras. Entretanto, só tomei coragem de procurar outro médico na 28ª semana. Foi um impulso. Não lembrava o nome do médico da Lú, nem quando havia me passado o telefone dele por e-mail. Procurei, achei, liguei, marquei a consulta e fui pra lá sozinha no mesmo dia. Meu marido, que nunca havia ido ao GO comigo, chegou em seguida para me acompanhar. Até fui em outro também, mas já estava decidido, seria o Dr. Marcos sem dúvida.
Já com 40 semanas, além da circular no pescoço anteriormente detectada durante o ultrassom, o Dr. Mauricio disse que meu bebê estava bem, mas que precisava nascer devido a centralização fetal. O Dr. Marcos nos tranquilizou e disse que no dia seguinte cedo teríamos que ir para a maternidade para induzir o trabalho de parto. Ainda bem que estava tudo pronto. Não consegui dormir, mas estava calma. Não tinha dilatação alguma. Foi dado Misoprostol pela manhã e nada. Cesárea ou não, agora eu só pensava na saúde da Sabrina, porque o cardiotocógrafo estava oscilando muito e apitou várias vezes. Depois de conversar com o Dr. Marcos pelo telefone, o cardiotocógrafo foi bem recolocado e concluiu-se que os batimentos da Sabrina continuavam bons. O Dr. Marcos chegou. Fomos para o LDR e ele entrou com a ocitocina às 15:40 hs, com dilatação em 1,5cm. Eu permanecia bem porque o cardiotocógrafo estava ali do meu ladinho e o Dr. Marcos me tranquilizando.
Minha irmã fez uma visita à noite, jantei e ela foi embora. O papai estava super tranquilo e começava a tentar disfarçar o cansaço, tadinho. Eu estava ligadona, viciada no cardiotocógrafo. A bebê estava bem, as contrações foram evoluindo e uma dorzinha boa também. O Dr. Marcos checou se havia mecônio e depois rompeu a bolsa das águas. Nada daquilo me incomodou, sério. A contração era o que incomodava mais, bem mais. Então às 23:00 hs, com cerca de 4cm, o Dr. Marcos me levou para a banheira com música. Muito bom, um momento sonhado, mas as dores foram ficando muito intensas a cada contração. Eu procurava relaxar e me concentrar ao mesmo tempo. Tinha receio de defecar na banheira, pois ia morrer de vergonha, mas com as dores fui esquecendo de tudo. Esqueci que estava nua, esqueci que no meu “parto ideal” eu não ia querer anestesia, pelo contrário, estava rezando para a Dra. Luciana, que eu nem conhecia, chegar logo. Esqueci do cardiotocógrafo, esqueci de quanto tempo estava lá, da dilatação… Se o Dr. dissesse que eu teria que ir para a cesárea naquela hora acho que eu nem ia me opor. Ainda bem que ele não falou.
Já no dia seguinte, à 01:00 h, saí da banheira um pouco atordoada, com frio e com dor. Só lembro deles me secando e ouvir o Dr. Marcos falar as palavras “dilatação total”. Depois da anestesia tudo ficou lindo, mas eu voltei a ficar muito preocupada com a Sabrina, mesmo vendo que todos ao redor estavam tranquilos. Lembrei de prestar atenção no Dr. Marcos, mas os meus movimentos não respondiam da forma que eu precisava fazer e ao mesmo tempo eu estava cansada, fazendo força conforme me pediam e com o auxílio da Dra. Luciana. Até que o Dr. me pediu muita força porque ela já estava quase nascendo, mas eu não quis ver pelo espelho. Percebi um movimento diferente e por um momento pensei: Ele precisou fazer episio. Dito e feito. Voltando ao meu “parto ideal”, eu não ia querer episio, mas dentro de todo contexto isto não era nada. Enfim, a Sabrina nasceu! 3 hs e 06 min do dia 21/08/2013 direto para meus braços choramingando feito uma verdadeira lady, ao som de Enya. O papai veio todo orgulhoso cortar o cordão. E eu, chata, só perguntando se ela estava bem… Ela estava óóóóteeemaaa! Apgar 09-10. Os mais chegados que viram o vídeo disseram que tem que assistir com “mute” acionado porque minha voz está irritante. Será?
Agradecimentos:
Luciana, por ter me indicado o Dr. Marcos. Luciana e Fernanda, por todos os toques para eu “acordar” se realmente quisesse PN, incentivo, conselhos, apoio em relação a amamentação que não aconteceu e me deixou muito frustrada. Sem vocês eu não teria tido coragem de trocar de médico.
Dra. Luciana, uma fôfa, delicadíssima.
Equipe do Dr. Marcos, que apareceram num passe de mágica.
Dr. Marcos, sem palavras, ou melhor, todas as palavras, muito obrigada por cuidar de nós três, por sua delicadeza, persistência, atitude, atenção, dedicação, preocupação, conduta, habilidade, convicção, confiança, pelo seu tempo e conhecimento.
Hamilton, meu amor, que me deu a nossa “pacotinho”, pedacinho de nós dois, obrigada por ser parceiro em todas as horas.