Adriana Malteze – nascimento de Gabriel

Minha gravidez e meu parto.Casei em 22/11/2002 e queríamos ter filho logo, na verdade eu queria e o Marcello aceitou devido ao terrorismo que sofremos da Dra. Marianne Pinotti (minha gineco na época) que dizia que eu tinha endometriose, mioma e minhas trompas não funcionavam. No fim fiz uma cirurgia que acredito ter sido desnecessária para retirar o mioma, que acabou não sendo retirado e ela descobriu a endometriose e o problema nas trompas. Me fez tomar uma tonelada de hormônios e tive que fazer um exame horroroso para ver se as trompas tinham voltado. O resultado foi que voltaram parcialmente e que seria difícil engravidar… isso me deixou muito neurótica. E como já sou muito ansiosa sofria muito…

Achava que não conseguiria..Todos os meses contava o 14º dia e obrigava meu marido a transar 2 antes e 2 depois… Era uma maluquice, transar por obrigação… fala sério!!! E quando chegava o 28º dia e a menstruação vinha, era um sofrimento, se atrasava um dia corria na farmácia pra fazer o exame Clear Blue.. e nada…Quando foi em junho de 2003 minha menstruação tinha que vir no dia 30 e não veio, mas não me atentei pois fui mandada embora do meu trabalho (estagiária) e fiquei muito triste com isso.. Quando foi no dia 02/07 percebi que não tinha vindo, mas como já tinha feito trocentos exames de farmácia e todos deram negativos estava com medo de comprar outro e fazer e dar negativo de novo, mas enfim criei coragem e fiz… DEU POSITIVO!!!!!!!!

Estava em casa sozinha e comecei a gritar que nem louca, chorava, ajoelhava no chão e agradecia a Deus… Aí fiquei com medo que esse exame de farmácia falhasse, liguei correndo pra minha gineco (Dra. Marianne Pinotti) e fui confirmar com ultrassom que já dava pra ver o saco gestacional, mas como acho que ela não tem o menor senso de psicologia para agir com as pacientes ela disse para que eu não contasse pra ninguém pois podia ser que não existisse embrião no saco gestacional. Puta terrorismo!!!! Sai de lá arrasada, mas acreditando que estava grávida e que daria tudo certo. A noite quando meu marido chegou eu contei pra ele e fomos de casa em casa contar pessoalmente (meu pai, minha mãe e os pais do meu marido) Todos ficaram muito contente, afinal é o primeiro neto dos dois lados. Imaginem só.Quando contei para minha irmã o que a Dra. Marianne tinha falado, ela sugeriu que eu fosse no médico dela o Dr. Carlos Borsatto.

Foi a melhor coisa que eu fiz, ele me tranqüilizou e sugeriu que eu esperasse uma semana e repetisse o ultrassom numa clinica que tem um aparelho de última geração e que com certeza daria pra ver o embrião. Graças a Deus lá estava ele lindinho e pequenininho dentro do meu ventre… Que alegria!!!! Resolvi então que ele seria meu médico até o final.. Não sei porque, mas tinha a neurose de que podia perder meu bebê, que ele não seria normal, tinha um monte de “caraminholas” na minha cabeça que acho que teve um pouco haver com as bobagens que ouvi da médica de antes, parecia que eu não era digna e nem merecedora de ser mãe, talvez Freud pudesse explicar com alguns séculos de terapia intensiva.Nesse começinho de gravidez acabei conhecendo a Mammy to Be, fui comprar uma calça pois engordei logo de cara… e acabei sabendo que haveria uma palestra gratuita, me inscrevi e fui, nesse dia conheci a Doris (dona da Mammy to Be) e ela logo percebeu que eu não estava bem, justo nesse dia tinha brigado com meu marido, Estavámos numa situação financeira ruim, sem contar os hormônios que deixam a gente meio neurótica… A Doris me acolheu de um jeito que foi super bom pra mim e me convidou para participar de um debate pela revista Crescer que aconteceria lá e que o assunto seria a ansiedade na gravidez e eu era a mais ansiosa… Foi muito legal perceber que eu não era a única que tinha neuroses e que eu não era um ET.

A Doris sugeriu que eu fizesse ioga, que isso iria me deixar mais tranqüila. Passado os 3 primeiros meses da gravidez, meu médico autorizou e aí, comecei a fazer ioga e hidroginástica.Os 3 primeiros meses forma terríveis, tive enjôo (não vomitava) e muita dor de cabeça, além de um cansaço absurdo… As dores de cabeça eram alucinantes e desesperadoras. Mas graças a Deus passaram a partir do 4º mês. Aí comecei curtir mais a gravidez. Minha barriga cresceu super rápido e eu adorava exibí-la, além de me sentir o máximo, me sentia poderosa. É uma sensação de que você é o ser mais importante da face da terra. Isso não significa que era metida, não, apenas é um estado de auto-estima lá em cima.Quando fui fazer o 1º ultrassom morfológico, com 20 semanas, iríamos saber o sexo do bebê, eu e meu marido estávamos eufóricos. Aí, olha como são as coisas, como nossa cabeça atrai bobagens e coisas ruins: o médico do ultrassom (aliás sempre fazíamos com o mesmo, acho isso legal) detectou que nos rins do bebê havia uma Pieloectasia Bilateral, e que isso poderia ser uma formação comum dele ou um indicativo de Síndrome de Down…

Imaginem só como saí de lá, eu trabalhava numa instituição com jovens deficientes mentais, já tinha uma neurose dentro de mim e agora esse exame… Quase enlouqueci.. Já tinha uma tendência derrotista, estava acreditando piamente que teria um bebê com Síndrome de Down.O meu médico, que sempre acreditou que isso não seria um indicativo da Síndrome, pois não havia nenhum outro, como translucência nucal, problemas cardíacos, entre outros, mas perguntou se eu queria fazer a Aminiocentese, aquele exame horroroso que enfia uma agulha na barriga da grávida e retira-se um pouco do líquido amniótico.

Eu com toda a minha ansiedade, resolvi que faria, pedi para que minha mãe me acompanhasse. Fui no Fleury e peguei um médico maravilhoso que com toda a paciência do mundo me explicou tudo sobre o exame e os riscos e me deixou a vontade na sala com minha mãe para decidir se faria mesmo ou não. Pensei muito, chorei, liguei pro meu marido, conversei com minha mãe e cheguei a conclusão que se desse que meu bebê (esqueci de falar que era um menino) tinha qualquer tipo de problema, nada iria mudar, eu já o amava muito e jamais pensaria em tirar, então resolvi não fazer e tirar isso da minha cabeça, não queria passar minha gravidez inteira pensando nisso, foi difícil, não comentei nada com ninguém e curti minha gravidez… Aliás curti muito, amei estar grávida.Foi através da Mammy to be numa palestra sobre parto humanizado com a Ana Cris que comecei a pensar no parto e comecei a questionar minhas idéias, até aquele momento, parto pra mim não era uma coisa pra se pensar e sim que simplesmente acontecia e que seu médico faria da forma que ele achasse melhor e que cesárea ou normal tanto fazia…

Comecei a pensar a respeito e cheguei a conclusão que se tudo corresse bem durante toda a gravidez, que eu queria trazer meu filho ao mundo da forma mais natural possível, queria participar ativamente desse momento da minha vida.Me preparei bastante para isso, fiz ioga, fiz hidroginástica e meditação… Fiz o plano de parto e fui conversar com médico (Dr. Carlos Borsatto), saber a opinião dele, para minha surpresa ele foi maravilhoso e concordou com tudo que optei. Falei que tinha escolhido o Albert Einstein e que queria que fosse no Labor Room e não no centro cirúrgico, ele concordou e na consulta seguinte levei a Doula Ana Cris para eles de conhecerem.

Ficou tudo acertado. Fiz o curso de preparação pro parto com a Ana Cris e ao ver os vídeos de partos naturais tive mais ainda certeza de que era isso que eu queria pra mim. Tudo foi correndo bem até que quando estava de 37 semanas tive uma pequena diminuição do liquido amniótico e passei a ser monitorada a cada 2 dias (cardiotoco e us com Doppler) ia me encontrar com o Dr. Carlos no Santa Catarina, para ver se estava tudo bem para que eu pudesse aguardar o trabalho de parto começar… e Graças a Deus, estava tudo correndo muito bem.Quando estava com 39 semanas e 4 dias, era dia 05/03/2004, minha mãe estava em casa e eu dizia para ela que estava me sentindo estranha, quando foi umas 16:00 hs ligaram dizendo que meu avô Armando que estava internado já algum tempo, tinha falecido, ficamos muito triste, mas ao mesmo tempo aliviadas, pois ele já estava sofrendo muito e nem reconhecia mais ninguém. Minha mãe teve que sair para ir contar pra minha avó, para meu tio e para resolver toda a burocracia de enterro, etc…

Quando ela saiu ainda disse para a minha barriga: Gabriel espera a vovó, pois quero assistir seu nascimento. Foi ela sair e comecei a sentir contrações fracas, liguei para meu marido e pedi para que ele não demorasse para chegar em casa porque estava sentindo contrações e que elas estavam ficando cada vez mais fortes. Ele chegou por voltas das 19:30 hs. Ligamos para meu médico que falou para que eu ficasse calma, jantasse, tomasse banho e fosse calmamente para a maternidade.Foi o que fizemos… chegando lá liguei para a Doula que contratei (Ana Cris) e ela foi pra lá… Estava com apenas 2 cm de dilatação e as contrações começavam a ficar cada vez mais fortes e mais freqüentes… Estava calma, liguei para minha mãe e avisei que já estava na maternidade e ela disse que assim que desse ela iria pra lá. Andava pelo hospital inteiro e quando vinha a contração eu agachava (cócoras) e recebia massagem da Doula ou de meu marido na região da lombar (isso ajuda muiiiiiiiiiito). Minha mãe chegou junto com minha irmã, que acabou ficando também.

Sentei naquela bola que também alivia a dor. Depois que as dores ficaram fortes demais perdi totalmente a noção de tempo e só sei que quando entrei na banheira para aliviar a dor, a bolsa estourou e as dores foram totalmente infernais… e não pude agüentar… pedi analgesia (dolantina), queria tentar antes de apelar para a anestesia, mas foi como ter tomado água com açúcar, nada resolveu e gritei desesperada por anestesia… Tive a infelicidade de pegar um anestesista terrível, além de chato ele não estava preparado para um parto do jeito que eu queria, estava p. da vida por ter que aplicar anestesia num quarto e que aquilo era para ser feito num centro cirúrgico, deixou cair a agulha no chão, demorou a beça para aplicar a anestesia e me deixou um tempão naquela posição terrível para quem está com um barrigão enorme. Depois de muito tempo que não sei precisar quanto, mas que para mim foi uma eternidade.

Enfim, ele aplicou, mas não sei se exagerou na dose, se fez algo errado ou se eu é que sou sensível a anestesia, só sei que minha pressão caiu pra 3 por 5, comecei a ter ânsia de vomito e não conseguia respirar, além disso fiquei totalmente amortecida do peito para baixo, só mexia os braços. Cheguei a pensar que morreria. Sei lá o que fizeram, aplicaram plasil e mais alguns medicamentos, oxigênio no nariz e minha pressão foi voltando ao normal.Nesse momento a Ana Cris teve que ir embora pois outro parto estava se iniciando e ela teve que correr pra lá e mandou outra Doula para ficar comigo a partir daí. (Andréa)Já estava com 10 cm de dilatação e meu médico dizia que era chegada a hora de fazer força… Muito fácil você ter que fazer força sem sentir mais da metade do seu corpo, além disso estava muito cansada.

O anestesista para ajudar, ficava me enchendo o saco para que eu mantesse o oxigênio no nariz e aquele “pregador” no dedo que fica controlando os batimentos cardíacos. Eu tinha que segurar na barra para fazer força e aquela porcaria me atrapalhava, além de não conseguir respirar direito com aquele oxigênio gelado no nariz, minha garganta já tava doendo e tava me incomodando muito.Mas enfim, fiz muita força e o bebê ameaçava sair mais voltava, todos diziam que viam o cabelinho dele, mas nada dele sair e mais força… e foi assim por um bom tempo… até que meu médico conseguiu perceber que o bebê tinha virado e estava com o rosto pra cima… com isso o meu cóccix impedia que a cabeça dele saísse… O certo é o bebê estar com o rosto virado para o bumbum da mãe. Então tinha 2 opções: cesárea (que poderia ser tarde demais pois estava num quarto e não numa sala de cirurgia), ou fórceps de alívio… Meu médico optou pela 2ª e teve que fazer a episiotomia… meu filho nasceu com 3.730 kg 13 horas depois de iniciado trabalho de parto numa virada de lua crescente para cheia…

Embora tenha nascido grande ele não respirou nem chorou logo que saiu e estava todo roxinho, teve que ser entubado e levado as pressas para a UTI, colocaram ele por segundos no peito para que eu pudesse ver a carinha dele antes.Como estava anestesiada não puder vê-lo em seguida e até que pudesse ir até lá, chorei compulsivamente pensando que estavam mentindo pra mim… Concluindo: ele estava ótimo, mas teve que ficar em observação alguns dias, 2 na UTI e 3 nos Cuidados Intermediários. Segundo o pediatra que é amigo da minha família e o meu médico o hospital prendeu ele lá todo esse tempo por puro exagero e precaução o que é normal para os padrões do Einstein que é considerado uns dos melhores hospitais do mundo. O que eu diria para vcs que pensam num parto humanizado… Vale a pena, tenho a certeza que se eu tivesse sido mais forte e agüentado as dores das contrações e não pedido anestesia, ele teria nascido mais fácil, eu poderia ter ajudado ficando numa posição mais favorável e não teria sido necessário o uso do fórceps. Aprendi uma coisa depois conversando com a minha Doula, quando vc opta por uma intervenção, vc acaba levando o pacote completo.

Optei pela anestesia, acabei levando de brinde uma episiotomia e o uso do fórceps além de ter que ficar na pior posição do mundo para parir (deitada) contrariando a lei da gravidade. Além disso é possível que a anestesia tenha feito com que a força que eu fazia não fosse suficiente, afinal 80% do meu corpo estava completamente morto.

Enfim, a posição que ele estava fez com que as coisas acontecessem dessa forma Com tudo isso eu tive uma excelente assistência do Dr. Carlos (meu obstetra maravilhoso) da Doula Ana Cris (que teria sido maravilhosa, se não fosse o fato dela ter saído na hora em que mais precisei dela) e claro da minha família (meu marido, minha mãe e minha irmã) que estavam presentes o tempo todo e foram maravilhosos comigo.Minha recuperação foi excelente, apesar da episiotomia que incomodou muito…

Adriana Malteze – Gabriel