Eliete Del Barco – nascimento do Matheus
Parto Normal Depois de Cesárea
(Sei que este depoimento é longo, mas aconselho a leitura aquelas que estão decididas a ter um parto normal. Eu lutei pelo meu até o fim e me sinto a mulher mais poderosa do planeta…)
Por falta de informação, meu primeiro parto foi uma “desnecesárea” como tantas outras feitas diariamente neste país. Tive depressão pós-parto durante um ano e meio, senti muita dor e desconforto no pós-operatório.
Três anos se passaram e meu marido e eu resolvemos ter nosso segundo filho. “Desta vez será diferente”, pensei. Após a confirmação da gravidez, marquei consulta com uma ginecologista, expliquei o que eu havia passado e o que pretendia desta vez. Ela me escutou, disse que concordava com minhas idéias, mas não me convenceu. Resolvi marcar consulta com outra ginecologista, indicada por uma amiga. Expliquei minha história e perguntei se ela topava fazer meu pré-natal.
A cada consulta eu a instigava sobre a possibilidade de um parto normal. Ela reafirmava que era possível, que tentaria tudo para que isso acontecesse. Discutimos o que poderia ou não ser feito durante o parto (indução, episiotomia, tricotomia, etc.) e parecia que o processo estava caminhando bem. Mas no fundo, no fundo, eu não estava muito convencida.
No período de 20/12/2002 a 5/01/2003 ela estaria em férias e o consultório, fechado. Na última consulta, no início de dezembro, eu insisti que ela informasse o número do celular, para o caso de emergência. (o parto estava teoricamente previsto para 18 a 22 de janeiro). Delicadamente, ela se recusou a fornecê-lo, dizendo que se houvesse alguma emergência eu deveria ir para a maternidade e de lá entrariam em contato com ela.
Fiquei com a “pulga atrás da orelha” depois desta consulta. Minha intuição feminina (ou quem sabe meu Anjo da Guarda) me aconselhou a procurar outro médico. Por indicação da Ana Cris Duarte, das Amigas do Parto, marquei consulta com o Dr. Marcos Tadeu Garcia e lá fui eu explicar minha história, pela terceira vez. Faltava exatamente um mês para a data prevista do parto.
A conversa com ele demorou quase 2 horas. Levei meus exames e contei a ele minha firme intenção de ter um parto normal. Ele me explicou tudo o que poderia ou não ser feito, em função da minha primeira cesárea. Falou dos hospitais que possuem suíte de parto (o que eu havia escolhido a princípio não tinha este recurso) e quais as vantagens deste tipo de acomodação: se houvesse algum problema, o centro cirúrgico fica ao lado, a poucos metros de distância. Saí da consulta super apreensiva: mudava ou não de médico? O Dr. Marcos não havia acompanhado meu pré-natal. Seria prudente mudar de médico faltando tão pouco tempo para o bebê nascer?
Logo após o Natal fui conhecer um dos hospitais indicados pelo Dr. Marcos e eu e meu marido chegamos por nosso plano de saúde. Passei algumas noites em claro, pensando na decisão que teria que tomar.
O Dr. Marcos sugeriu que eu voltasse no consultório logo após o Natal, para conversarmos novamente e esclarecer dúvidas. Pensei sobre isso alguns dias e então marquei outra consulta com ele para o dia 6 de janeiro, segunda feira. Eu já havia decidido que ele faria meu parto e que a Ana Cris seria minha doula. (Na semana do Natal tive uma super conversa com ela, mais de 2 horas de muita informação e encorajamento)
Entrei em trabalho de parto no dia 4 de janeiro, sábado à noite. Durante todo o dia minha barriga ficou mexendo, parecia que o bebê estava se “embolando” de um lado. Eu não sentia dor, só incômodo. Mais ou menos 22 hs do sábado, comecei a sentir uma dorzinha. Uma hora depois, as dores estavam intensas, eram as famosas contrações. Liguei para Ana Cris e ela me ensinou uma técnica de respiração para amenizar as dores. Meu marido ligou para o Dr. Marcos e informou que as dores estavam intensas e as contrações em intervalos curtos. Ele pediu que eu fosse para a maternidade. Cheguei lá com 9 cm de dilatação, chamaram o Dr. Marcos que, junto com seu assistente, Dr. Armindo, chegaram quase “voando” ao hospital. Pouco depois chegou também a Ana Cris e lembro-me de ouvir a voz de alguém (devia ser alguma enfermeira) dizendo que minha “doula” havia chegado.
Neste meio tempo, lembro de uma passagem divertida: a enfermeira queria fazer a tricotomia e eu fui logo berrando que não queria que não era para tocar em mim até a chegada do médico. A Ana Cris já havia me instruído que eu não era obrigada a fazer tricotomia (que é muito desconfortável depois, quando os pelos começam a crescer) e eu havia memorizado a lista dos meus “direitos”: não era obrigada a fazer lavagem intestinal, podia ficar na posição que me fosse mais confortável, poderia usar a hidromassagem se precisasse. Tudo isso havia sido explicado pela Ana, em nossa conversa antes do parto.
Meu marido não teve coragem de assistir o parto. Disse que iria passar mal e dar trabalho aos médicos. Por fim, a Sandra, uma amiga minha, para a qual também telefonei quando começaram as contrações e que ficou todo o tempo ao meu lado, perguntou se poderia assistir o parto. Tanto ela quanto a Ana Cris me proporcionaram um conforto enorme naquele momento tão importante da minha vida.
Tudo pronto: anestesia aplicada, dor diminuída, só faltava meu filhote nascer. Os médicos controlavam os batimentos do bebê a todo o momento. A cabeça do Matheus estava levemente voltada para cima e por isso não passava pelo canal do parto. Em determinado momento, os batimentos caíram muito e o Dr. Marcos informou que teria que fazer uma cesárea. Entrei em pânico, chorei muito, disse que confiava nele, mas pedi que tentássemos algum último recurso. Resolvemos mudar minha posição na mesa, fiz muita força e o bebê encaixou. Assim nasceu o Matheus: 8/9 de Apgar, 44 cm, 2.290 kg, pequeno e saudável.
Meu filho nasceu no domingo de manhã e à tarde eu já estava ligando para as amigas e contando a notícia. No dia seguinte eu já estava ótima. Sentia apenas um desconforto na parte de baixo, mas andava sem dificuldade. Recebi muitas visitas, estava disposta e bem humorada.
Continuo emocionada e meus olhos enchem de lágrimas quando lembro aquele momento. Estou me sentindo muito “poderosa”. Eu sabia que era possível.
O nascimento de um bebê é coisa corriqueira, mas em um país com índices tão altos de cesáreas, optar por parto normal é uma aberração. Já ouvi muitas estórias para justificar cesáreas: o bebê era muito grande, a bacia não era adequada, passou da hora… Algumas amigas minhas fizeram cesárea só porque era “mais rápido”.
Estou muito feliz com minhas escolhas e totalmente agradecida à Sandra, minha amiga, pelo apoio e à Ana Cris por tantas informações vindas em boa hora. Tenho também que agradecer ao Dr. Marcos T. Garcia e seu assistente, Dr. Armindo, pela persistência, competência e habilidade na condução do parto. Estar cercada de pessoas que acreditam nas mesmas coisas é fundamental para o sucesso.
Para vocês, futuras mamães, eu recomendo: busquem informações, conversem com seus médicos e se necessário, busquem ajuda de outros profissionais. Não aceitem que o médico marque a cesárea com antecedência. Isso é feito para adequar na agenda todos os compromissos dele. Fuja daqueles médicos que tem um dia específico na semana só para fazer partos. (Lembrem-se: parto normal não pode ser agendado!) Desconfiem daqueles que indicam a cesárea como melhor opção. Se acharem melhor mudar de médico na véspera do parto, mudem! Procurem um profissional competente, que não se importe em dar o número do celular e que esteja disponível na época do parto.
Não estou fazendo propaganda contra cesárea. Em muitos casos ela é necessária, mas o médico deve ter critério de indicá-la apenas nos casos específicos.
O parto normal é melhor, a recuperação é mais rápida, a probabilidade de ter depressão pós-parto é menor. Pode demorar mais que a cesárea, pode doer bastante até a hora da anestesia, mas não pensem que é aquela cena toda como mostram nas novelas. A dor dura o tempo de se chegar ao hospital e tomar anestesia.
Com cesárea, em muitos casos a mulher fica muito mais tempo dolorida, os pontos podem abrir, pode ter complicações, pois afinal é uma cirurgia.
Palavra de quem já passou pelas duas experiências.
Eliete Rose Del Barco
São Paulo – SP
Eliete Del Barco – Matheus