Adriana Caputo – nascimento de André Elias

A história de meu parto já nasce fadada a ser inverossímil, porque o que foi vivido alí, jamais poderá ser reproduzido, nem mesmo por mim, tamanha sua intensidade e importância… 3h e 20min do dia 13/05/2005, levantei-me para aquecer água, orava pela cura de uma dorzinha chata na garganta e ia preparar um gargarejo quando a bolsa rompeu. Na consulta anterior, realizada no dia 12/05 constatamos que o bebê estava alto e os 3 cm de dilatação, verificados dias antes, continuavam sem alteração. A bolsa romper foi um prazer para mim, todas as novidades eram bem-vindas e curtidas… todas eram prenúncios da chegada do meu amor!

Chamei meu maridão que dormia e por um momento até achei que era urina, mas não, escorreu pelas pernas, molhou o tapete da cozinha e era muito diferente. O Claudio acordou e veio constatar que era mesmo hora de ir para a maternidade, ele se alegrou muito, dançou, ligou para o Dr. Marcos Tadeu Garcia e foi para um loooongoooo banho, em que cantava e louvava a Deus! O Dr. perguntou sobre o aspecto do líquido e recomendou irmos para a maternidade… ligamos para meu cunhado que me levaria para a maternidade e depois ficamos sabendo que ele se emocionou muito, chorou e orou antes de vir.. Minha irmã ficou radiante e tranqüila para nosso equilíbrio.

Minha família é assim mesmo, quando um de nós cede à ansiedade , há sempre o outro para nos apoiarmos e acharmos consolo! Avisada a vovó , que chorou e nos abençoou, fomos para a maternidade. Lá fui recebida pela enfermeira obstetriz que, lamento não lembrar o nome e a auxiliar de enfermagem que ficaram visivelmente contagiadas com nossa alegria, tudo, mas tudo mesmo para nós era parte integrante de uma história que não se repetiria jamais… Ao sair da sala da obstetriz nos abraçamos e ela me desejou coisas boas e ligou pedindo que me servissem o café, já no apartamento a auxiliar também nos falou palavras de encorajamento e disse que meu filho ia ser lindo se puxasse a mãe (não podia deixar de colocar isso não é???? Rssss). As contrações eram amenas, de 7 a 8 min, mas com pouca duração, o TP efetivo ainda estava longe…

O Dr. Marcos ligava para tranqüilizar enquanto se preparava para ir a maternidade, nós três no apartamento: eu , o Claudio e meu cunhado, esperávamos novidades… Meu cunhado foi embora , mas antes orou conosco e choramos muito, a emoção era muito grande! A obstetriz do plantão veio me examinar e viu que tudo estava muito tranqüilo, voltou depois e quando reclamei que ter contrações deitada era mesmo ruim como diziam ela perguntou se eu tinha trazido um robe e disse para eu dar uma voltinha no corredor quando as contrações aumentassem, logo ela se desculpou pois lembrou-se que eu estava com bolsa rompida e não era recomendável já que as contrações ainda nem estavam ritmadas, mas mesmo assim fiquei surpresa e feliz com seu cuidado já que tinha sido “prevenida” de que isso não aconteceria.

Quando o Dr. Marcos chegou, não consigo me lembrar a hora, constatou que o colo já estava mais trabalhado, mas que o bebê estava alto e havia uma pequena alteração na dilatação. O tempo passava e as contrações de 5 em 5 mim estavam presentes mas com uma duração tão pequena que as vezes eu nem as via… Conversamos sobre a possibilidade do uso da ocitocina para regular as contrações , eu estava muito relutante e conversei com meu marido, resolvemos esperar mais… O tempo voava e do alto de minhas 41 semanas e 2 dias com 5 cm de dilatação há muitas horas, já pensava no uso da ocitocina para alterar alguma coisa. Esse não é um relato médico, mas um relato de mãe, por isso não esperem precisão nos horários, o tempo para mim ali, era um visitante aguardado e ao mesmo tempo indesejado, verificado e esquecido, uma personagem não convidada para a trama , mas que acabou tendo um dos maiores papéis.

Que bom que Deus era o diretor! Aplicada a sorologia, mínima, as gotas caiam preguiçosas e o tempo passava… as contrações ganharam ritmo e duração lá pelas 14:00 hs, 11 horas de bolsa rompida, o antibiótico fora ministrado cerca de 1h antes. Eu falava muito, sei que falo muito normalmente, mas estava feliz, sedenta por novidades, cercada de gente amada: marido, médico, mamãe, meu filhote na barriga, depois, pela sobrinha amada Amanda, pela irmã, enfim, passei momentos de intensa felicidade e aconchego… O Dr. Marcos registrava esses momentos, temos imagens em que estou sentada no chão com contrações, minha irmã, mãe e sobrinha sentadas comigo e eu tentando explicar para minha sobrinha o que eram contrações… coisa linda de ver e viver! Minha mãe era um misto de vontade que as coisas evoluíssem e vontade de que tudo acabasse logo e eu não sentisse dor, o Dr. Marcos era uma mistura de vontade de deixar fluir e de preocupação pelo lento andar do TP… Eu nem percebia mais a ação do tempo, estava entregue …

No exame de toque o Dr. Marcos verificou , após algumas contrações mais bravinhas, que desceu um bolsão de água, a bolsa não tinha se rompido totalmente e ele tentaria romper esse bolsão para que o bebê conseguisse descer mais facilmente, se esse fosse o impedimento… Após a perfuração notou-se mecônio no líquido. Eu sabia que isso não era ótimo, mas o Dr. tranqüilizou-nos dizendo que estava claro e bem fluído e que esperaríamos a evolução do TP, havia saído líquido claro anteriormente o que demonstrou a possibilidade do bebê ter evacuado há pouco. Embora nos passasse tranqüilidade, aumentou o monitoramento do bebê, que em um dado momento, muito curto e nem sei se nessa hora, apresentou uma queda nos batimentos que durou um nada, mas que aconteceu e não foi ignorada pelo médico.

O Dr. Marcos verificou de novo o bolsão, pois não conseguia esvaziá-lo todo, dada a sua posição e rompeu mais uma membrana colocada em posição favorável pelas contrações, o mecônio estava diferente, um pouco mais denso, o Dr. me falou o grau mas eu queria ignorá-lo e o fiz. Lá pelas 22:00 hs, contrações como o esperado, dilatação ainda de 5 cm, bebê alto, o Dr. Marcos colocou as coisas com mais objetividade e preparou-me para ir a LDR, até então ficamos lá todos juntos, unidos pela mesma espera, agora eu e meu marido íamos para a LDR e lá , precisaríamos contar com a evolução que não havia acontecido até agora…

Soube que minha mãe chorou, soube que meu marido chorou, soube que fora uma mistura de oração e emoção e eu mudava de foco, a importância do parto dos sonhos diminuía e a importância de ver meu filho bem, comigo, aumentava… A assistente do Dr. Marcos chegou, o anestesista também, eles falavam de minha força , o líquido escorreu mais na próxima contração e a Karlinha (assistente) me mostrava o mecônio já bem mais escuro, o Dr. Rodrigo me mostrava lindas fotos de um parto de gêmeos e falava que eu era corajosa de ter chegado até ali, por tanto tempo, sem anestesia, eles tentavam melhorar o ambiente para mim. Já passada mais uma hora como se fosse um minuto, meu marido ajustou ainda mais o foco para mim, eu diminuía e meu filho aumentava, era o momento dele, ele precisava sair… Deus me dera 41 semanas e 3 dias de intensa felicidade, de tudo que sonhei, agora, não me atrevo a tentar dizer o porquê, eu precisava abrir mão do desfecho final para poder iniciar uma outra história de amor, a mais linda história, que agora, tendo aqui do lado o André Elias dormindo, lindo, lindo, abençoado, eu sei que é indescritível…

Todos saíram, eu chorei com meu marido, queria muito ouvir a voz de Deus que jamais me abandonara, nem ali… Oramos e fomos para a cirurgia…

Lá falei muito, ri muito, o medo passara, a tristeza tomou seu lugar de segundo plano e eu decidi aproveitar o fim das dores, a proximidade de ter meu filho nos braços… Tive uma contração nauseante na mesa, antes da anestesia e lembrei de minha mãe parindo deitada (posição horrível) a filha que teria seu filho nos braços dali a pouco… Falamos muita bobagem, judiei muito do Dr. Marcos, rimos e de repente meu marido fala: amor, nosso filho é lindo, ele está saindo (era 00:47 hs), eu ouvi seu chorinho… chorei também… me trouxeram para beijá-lo, na sala mesmo foi examinado, o papai a observar, logo ele voltou e ficou ali , rostinho colado no rostinho da mamãe… desembrulhadinho a pedido do Dr. Marcos, acariciei-o, beijei-o , recebi os parabéns do pediatra que deu informações que eram menos importantes do que beijar meu bebê.

O bebê ficou comigo até que chegasse a hora de eu ir para a sala de recuperação da anestesia, depois soube que conseguimos algo muito importante, tanto tempo de permanência do bebê na sala de cirurgia…

Deus continuava olhando por mim… A Deus, minha mais profunda gratidão, a equipe médica, a todos os funcionários da Pro matre que me mimaram e a minha família maravilhosa, minha eterna lembrança de que vocês estavam lá, no meu momento… tornando tudo assimilável, intenso e bom… obrigada!

Ao meu filho amado, André Elias, ao olhar para você, nada mais importa.

Te amo!

Adriana Caputo – André Elias