Angelina Yano – nascimento de Júlia

Meu nome é Angelina, tenho 22 anos e engravidei com 15 por acidente, tentei esconder dos meus pais porque morria de medo da reação deles. Usava roupas mais largas, ficava no meu quarto o tempo inteiro e só conseguia chorar. Acho que nunca chorei tanto na minha vida.

Meus seios estavam crescendo, meu corpo ficando maior, com curvas coisa que eu não tinha até então e me dava desespero dos meus pais descobrirem a qualquer momento. Passados 3 meses minha mãe disse: Nós vamos ao laboratório fazer um exame de sangue e ver se você está grávida! E eu disse: Não precisa, eu estou mesmo! Nossa! O mundo da minha mãe desabou, ela sofreu mais do que eu em 3 meses. Espalhou-se a notícia e todo mundo caiu matando em cima dela, dizendo que ela não soube me criar e blá blá bla! Eu me sentia pior dos seres por achar ter feito uma coisa tão horrível com ela.

Em meio ao tumulto que foram as próximas semanas – minha mãe estressada, eu morrendo de vergonha – sentei ao lado do meu pai no sofá e pedi desculpas chorando. Ele disse: Não precisa se desculpar filha, eu estou muito feliz, sempre quis ser avô! Deu-me um alívio inexplicável naquele momento, como se tirassem uma rocha das minhas costas. Passada a tempestade, tudo melhorou. Contamos pra todo mundo, os pais do meu namorado vieram conhecer os meus e todo mundo ficou bem. Minha gravidez foi tranquilíssima. Dormia muito, caminhava bastante, tentava controlar o peso (engordei 12 kg). Minha DPP era 7/02/2002 e a médica dizia que se passasse desse dia teria que ser cesárea. Eu não tinha conhecimento nenhum sobre nada, acreditava nela sem questionar nada. Também, né, o que a gente sabe com 15 anos? Eu disse que queria parto normal, mas eu MORRIA de medo da dor, na verdade eu queria normal porque era mais barato que a cesárea e teríamos que pagar particular porque o plano não cobriria parto por causa da carência, então enfrentando meus medos eu decidi parto normal. Minhas colegas de gravidez, do curso de gestantes, já estavam ganhando os bebês e eu nada!

No dia 06/02/2002, uma quarta-feira eu me senti particularmente triste e liguei pro meu namorado pedindo pra que ele viesse me ver (ele morava em outra cidade) e dormir aquela noite comigo. Ele veio, dormimos juntinhos e a presença dele me fez sentir melhor. Acordei meia noite com dores, fui ao banheiro e vi que o tampão estava saindo. Ficamos animadíssimos e pedi pra que ele começasse a cronometrar pra ver se era pra valer. As contrações começaram a vir de 5 em 5 min. que era o tempo que a médica disse pra irmos para o Hospital.

Troquei de roupa, peguei minha malinha de maternidade, avisei o pessoal em casa, ninguém mais conseguiu dormir! Rsrs. Chegamos no hospital, meu namorado ficou na recepção, ainda não tinha a lei de acompanhante, mas eu pude ficar com a minha mãe porque eu era menor de idade. Fiquei sentada num banco esperando não sei o quê. As contrações estavam fracas, parecia uma cólica de menstruação mesmo. Me levaram pra uma salinha, deitei numa maca e veio um médico que eu nunca vi na vida fazer o exame de toque. Já eram 6 cm. Mas pela cara dele aquilo não era muito bom, não estava convencido, sei lá o que ele pensou. Entrou uma enfermeira, não disse muita coisa, me raspou, fez lavagem, me mandou pro banheiro e foi embora.

Me mandaram pro quarto, onde tinha mais uma mulher, tinha acabado de fazer uma cesárea, estava exausta, com sonda e um saquinho cheio de sangue, xixi, não sei o que era. Ela nem se mexia. Achei horrível, com certeza não queria passar por aquilo. Fiquei deitada, lá não me deixavam levantar, andar, nada! Tava assistindo Globo (eca!), e foram se passando os programas, um atrás do outro e eu lá, esperando, com dores normais, fracas até.

A médica chegou e disse que meu trabalho de parto não estava evoluindo e que iria colocar um soro pra acelerar um pouco. Beleza, nunca tinha ouvido falar disso. Colocado o soro a coisa mudou de figura, as dores ficaram muito fortes, com pouco intervalo entre uma e outra, e eu fui me desesperando, não podia levantar da cama, cada um que entrava dizia pra eu respirar de um jeito, mas nada aliviava a dor e toda hora vinham fazer toque (HORRÍVEL).

Eu apertava a mão da minha mãe, fazia cara feia e ficava quietinha pra não atrapalhar a mulher do lado. Eu queria a epidural e diziam que precisava esperar mais um pouco. Quando eu estava com uns 7 ou 8 cm e chorando desesperada disseram que poderia dá-la. Queria que minha mãe fosse comigo, estava com medo, chorava e segurava a mão dela, e ela chorava também.

Ela ficou no corredor e me levaram pra uma sala, cheia de equipamentos, luzes fortes, fria. O anestesista chegou, se chamava Santo, rs, e eu achei que ele foi um santo mesmo, porque tirou minhas dores, as pernas ficaram meio molengas, não sentia nada. Todo mundo saiu da sala e a médica disse pra eu ficar fazendo força pra ver se o bebê descia, porque ele estava muito alto e então saiu da sala. Eu fiquei lá sozinha, fazendo força, me achava ridícula, não sabia quando era pra fazer força, só fazia e pronto. Fiquei mais ou menos uma hora lá. A médica voltou, foi entrando um monte de gente na sala e eu com as pernas abertas de frente pra porta. Todo mundo que entrava já via tudo(rsrs). Morria de vergonha. Nossa! É parto normal, chama não sei quem pra ver!

Diziam os enfermeiros espantados. Era o maior evento do hospital, porque ninguém fazia parto normal lá. Romperam minha bolsa e me encharquei toda naquela maca estreitinha. Eu fiquei assustada com tanto líquido que não parava de sair. Bom, os expectadores estavam a postos e comecei a fazer força, duas pessoas empurravam minha barriga,senti a tesourinha cortando o períneo (sem aviso prévio) e a minha bebê passando, senti o corpinho todo dela.

Tiraram e colocaram em cima de mim, não tive reação alguma ao vê-la, acho que só então caiu a ficha de que eu tinha tido um bebê de verdade. Não sei apgar, porque nunca tinha ouvido falar nisso, sei que ela nasceu às 10:00 hs pesando 3,8 kg e medindo 50 cm. Logo a tiraram do meu colo, me costuraram e a levaram para observação. Apaguei, mesmo me sentindo super desconfortável. Acordei com um enfermeiro muito carinhoso me levando pro quarto.

Fui tomar banho, nem sei quanto tempo depois e desmaiei no banheiro, mesmo estando na cadeira de rodas. Depois do banho trouxeram minha filha pra mamar. Foi a sensação mais esquisita do mundo ver aquele ser me sugando, não sei nem descrever.

Passamos a noite em claro, minha mãe se revezava entre a Júlia (minha filha) e a bebê da mulher do lado, porque a coitadinha nem conseguia se levantar. No dia seguinte fomos pra casa, foi maravilhosa a sensação de sair com minha filhinha no colo, me senti orgulhosa. A Júlia é maravilhosa, muito mais esperta e inteligente do que eu.

Ela me fez crescer MUITO, passei a ver tudo de uma forma diferente, mais responsável. Seis anos e muitas informações depois, estamos nos preparando para ter outro filho. Agora mais consciente, desejo um parto normal em casa que acredito ser o melhor para mim e para a chegada do meu bebê.

Angelina Yano – Júlia